Nuno Amado apresentou prejuízos de 740 milhões de euros em 2013, um número no vermelho que só surpreende os mais desatentos e que está em linha com o plano de reestruturação do Millennium bcp, mas, a um ano do fim do mandato, o estado de graça do presidente do banco esgotou-se e 2014 tem de acabar com outra cor.
A administração do BCP continua a fazer o trabalho de casa necessário, Amado fechou o acordo com a Direcção-Geral da Concorrência europeia depois de beneficiar de uma ajuda pública de três mil milhões de euros que custaram, só em 2013, cerca de 269 milhões, vendeu a operação na Grécia e fechou um acordo com os sindicatos. Já era um plano de difícil execução, ao qual é preciso acrescentar a situação económica do País, a falta de negócio, que explica, por exemplo, que o produto bancário tenha caído mais de 15% no ano passado. O BCP, como os outros, tem dinheiro para emprestar, não tem é uma carteira suficiente de boas empresas e bons projectos, por isso, o crédito caiu mais de 5%. Se pudesse, Amado não venderia a operação na Polónia, que dá lucros, passaria, antes, a sede do BCP para Varsóvia.
Sim, o BCP está melhor hoje do que estava há dois anos, tem rácios de capital mais sólidos, cumpre as exigências do Banco de Portugal e da EBA, mas está mais ou menos como o País: o processo de ajustamento tem custos, o quadro geral piora antes de melhorar. Ora, 2014 é, neste aspecto, decisivo.
Ao contrário do BPI, que já iniciou de forma acelerada, até demais para o gosto do Banco de Portugal, o reembolso do empréstimo público de 1,5 mil milhões, o BCP promete começar este ano a pagar 400 milhões dos três mil milhões que recebeu, ainda assim, menos 100 milhões do que tinha prometido.
Em 2014, Nuno Amado tem de apresentar resultados positivos, pelos accionistas de referência, particularmente os angolanos que já investiram milhões, mas sobretudo pelos outros. O processo de ajustamento - leia-se o reconhecimento de imparidades e provisões - vai continuar, e o calendário para o pagamento dos três mil milhões aperta, por isso, Amado vai ter de fazer, em 2014, o que já foi tentado, sem sucesso, pelo seu antecessor, Carlos Santos Ferreira. O BCP precisa de voltar a ser uma referência no mercado de capitais, o BCP precisa de novos accionistas, para juntar à Sonangol, que permitam manter a dimensão internacional do banco.
Nuno Amado cumpriu (quase) à risca o plano negociado com as autoridades nacionais e internacionais, mas precisa de surpreender em 2014, precisa de arriscar. O presidente do BCP foi bem-amado nos primeiros dois anos, mas precisa de lucros para chegar ao terceiro.