Maria Luís Albuquerque não assumiu as funções de ministra de Estado e das Finanças com o pé direito, por causa do caso dos 'swaps' que o relatório final da comissão de inquérito está, aliás, longe de a ilibar. Mas com o cumprimento do défice de 2013 e o anunciado regresso aos mercados, com uma emissão de obrigações a cinco anos em condições claramente melhores do que a última emissão de longo prazo antes do resgate, vai ter uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão.
A ministra das Finanças patinou quando quis utilizar o caso dos 'swaps' do ponto de vista político, um terreno em que não está, claramente, à vontade, uma linguagem que ainda não domina, veremos se alguma vez dominará. Tentou, depois, fugir ao tema, e a custo, lá foi conseguindo, também com a ajuda da maioria parlamentar que fez um relatório de conclusão da comissão de inquérito que só serviu para o lamaçal político. Todos ficaram mal, a ministra conseguiu não ficar sozinha. E, pelo meio, quando os dados económicos e financeiros começaram a dar sinais positivos, aproveitou bem a janela de oportunidade para reposicionar a sua actuação. Técnica, e não política. Tem falado pouco, e tem falado bem, e conseguiu até passar o teste do Orçamento do Estado.
O ano de 2014 pode ser, assim, um verdadeiro ano novo para a ministra das Finanças. O sucesso na operação de emissão de dívida de hoje - já garantido porque é uma emissão sindicada, isto é, garantida por cinco bancos - muito se deve a João Moreira Rato e ao IGCP que, do ponto de vista técnico, têm feito um trabalho permanente de formiga junto dos investidores que estavam tão desconfiados de Portugal. E deve-se também a um contexto europeu e mundial muito favorável, que junta questões tão diferentes como as baixas taxas de juro, o 'quantitative easing' norte-americano, o abrandamento das economias emergentes e a garantia de que o euro está cá para ficar. A relação risco/rentabilidade passou a ser favorável aos países periféricos da Europa.
A vitória de Albuquerque será, também, inquestionável. Se a operação correr como o previsto será a uma taxa inferior a uma operação idêntica, realizada em Fevereiro de 2011, portanto, antes da votação do PEC IV e da crise política. Está tudo dito.
A margem de manobra de Albuquerque, como se vê, não ficou assim tão limitada pela promoção de Paulo Portas a vice-primeiro-ministro com as relações com a 'troika'. Nos últimos meses, o líder do CDS-PP não conseguiu capitalizar esse poder, apesar das conferências de imprensa que, em alguns momentos, chegaram a ser de constrangimento alheio pelo papel secundário de Maria Luís Albuquerque. No final do dia, as decisões foram tomadas nas Finanças.
Maria Luís Albuquerque já tem garantido o financiamento do Estado para todo o ano de 2014 e pode agora, com mais tempo, preparar a necessária emissão de obrigações a dez anos, uma operação indispensável para fechar com sucesso o programa de ajustamento e beneficiar do programa cautelar. Quem diria, em Julho, que Albuquerque estaria nesta posição?