Quando o País político esperava uma remodelação do Governo no dia de aprovação do Orçamento do Estado para 2011, José Sócrates fez o óbvio: não remodelou. O Governo, é óbvio, precisa de uma energia renovada para enfrentar o que vai ser o próximo ano, quer por razões económico-financeiras, quer por razões de desgaste político, mas o primeiro-ministro sabe, melhor do que ninguém que a remodelação está ‘pendurada’ por um nome: Teixeira dos Santos.
Após a ajuda do fundo de emergência europeu e do FMI à Irlanda, os mercados não acalmaram e continuam a penalizar fortemente Portugal e também Espanha, demonstrando a sua desconfiança relativamente à capacidade de resistir a níveis de juros da dívida pública na casa dos 7% durante muito mais tempo.
Ontem, a própria Comissão Europeia mostrou o seu cepticismo relativamente às promessas do Governo para os próximos anos e pediu mais medidas de austeridade, o que não deixa de ser uma ironia… quem mais deveria proteger os países mais expostos, Bruxelas, mais os fragiliza, no pior momento. Dito isto, a remodelação serviria para estancar a especulação - muito racional, na óptica dos investidores/especuladores - sobre Portugal e garantir que ‘temos governo’ para executar o orçamento para 2011 nos termos em que foi aprovado.
Em primeiro lugar, é preciso que Portugal chegue ao primeiro trimestre de 2011 sem necessidade de recorrer ao fundo de emergência da União Europeia e ao FMI, o que não é certo. Mas, admitindo que ‘escapamos’ a esse fado do fundo, a questão essencial na remodelação não é a mudança de António Mendonça nas Obras Públicas, Ana Jorge na Saúde, Helena André no Trabalho, Dulce Pássaro no Ambiente, António Serrano na Agricultura, Gabriela Canavilhas na Cultura ou mesmo Luís Amado nos Negócios Estrangeiros. São todos remodeláveis, podem todos mudar, mas se Teixeira dos Santos ficar, perde-se uma remodelação. Porque o que está em causa - hoje - é o ministro das Finanças, e a sua força e capacidade pessoais.
Teixeira dos Santos tem cometido erros de palmatória, elementares e até surpreendentes. Passou, em poucos meses, de ‘cavilha de segurança’ de Sócrates para o seu principal problema. Mas a decisão de remodelar está intimamente ligada a uma convicção de Sócrates: Teixeira dos Santos é recuperável ou não? Se o primeiro-ministro não remodelar até ao Natal, já não renova. Porquê? Porque a execução orçamental de 2011 começa no dia 1 de Janeiro, não há margem para erros e, por isso, não faz sentido entrar um novo ministro das Finanças sem conhecer o orçamento, já com ele em execução. Não haverá tempo para um ministro, mesmo para um nome como Vieira da Silva, conhecer o orçamento com detalhe necessário, e fazê-lo cumprir.
Se José Sócrates não remodelar Teixeira dos Santos está a pôr o futuro do País, o do Governo, e o seu próprio nas mãos do ministro das Finanças. N
São todos remodeláveis, podem todos mudar, mas se Teixeira dos Santos ficar, perde-se uma remodelação.